A terapia das vitaminas |
Criada nos anos 60 para restaurar o equilíbrio químico do organismo, a ortomolecular tem sido erroneamente interpretada como uma forma de dieta, por conta do emagrecimento surpreendente de várias atrizes |
texto: Beatriz Portugal |
QUANDO E COMO SURGIU
A medicina ortomolecular (junção das palavras gregas orto, que significa equilíbrio, e molecular, relativo a moléculas) foi criada na década de 60 pelo químico norte-americano Linus Pauling, ganhador de dois prêmios Nobel. Ele acreditava que as doenças eram causadas por desequilíbrios das moléculas e que, para preveni-las, era preciso normalizar a química do organismo. 'Pauling disse que tomar vitaminas, como a C, a E e as do complexo B, seria uma das coisas mais importantes na medicina, capaz de evitar males como a gripe', explica o professor de bioquímica e nutrição da UniRio, Helion Póvoa, fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Ortomolecular. COMO FUNCIONA A terapia ortomolecular utiliza substâncias naturais antioxidantes como minerais, oligoelementos e vitaminas. 'Servem para melhorar fadiga crônica, queda de cabelo, retenção de líquido, diminuir a vontade de comer doces na TPM e até emagrecer', diz a cardiologista Heloisa Rocha, que prescreve esse tipo de tratamento em sua clínica, a Barraclin, no Rio de Janeiro, onde atende as atrizes Giovanna Antonelli, Priscila Fantin, Deborah Secco e Solange Couto. 'Costumo ver meus pacientes de dois em dois meses, e sempre que voltam ao consultório apresentam melhoras em 80% das queixas que tinham.' O tratamento é personalizado. Em consulta, são levantados a rotina do paciente, a alimentação, o histórico médico e as predisposições genéticas. Antes, porém, é feito um exame para avaliar o estado e as necessidades do organismo. Consiste na análise de um fio de cabelo ou do sangue. Com base nisso, elabora-se uma dieta específica para aquela pessoa, de acordo com o que está em excesso e o que está em falta no corpo. 'Também receitamos suplementos via oral [pílulas], estimulamos a prática de exercício físico e a adoção de uma alimentação equilibrada', esclarece Heloisa. 'É claro que isso tudo gera emagrecimento.' No entanto, o geriatra e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Clineu Almada Filho, que realiza pesquisas sobre este tipo de terapia, afirma que não existem evidências clínicas para comprovar que a terapia ortomolecular realmente traz benefícios. 'Estudos experimentais comprovaram a função antioxidante de certas substâncias. Mas nada para sugerir essa teoria em larga escala.' Tanto que a terapia ortomolecular não é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. O IMPACTO NO ORGANISMO 'Na terapia ortomolecular acredita-se que tudo se conserta de dentro para fora', diz Heloisa. O organismo possui um mecanismo de defesa que tem ação antioxidante, pois neutraliza o impacto dos radicais livres - que são os inimigos das células, capazes de destruí-las e causar, por exemplo, o envelhecimento. No entanto, a presença de doenças, a má alimentação, o fumo e outros problemas produzem mais radicais livres e fazem o organismo perder sua força e sua eficiência natural. A terapia ortomolecular tenta justamente equilibrar essa relação e melhorar o sistema de defesa. 'É válida, embora não haja comprovação científica', diz Almada Filho. 'Mas ocorre um certo abuso, pois se faz marketing, criando uma ilusão de que qualquer pessoa vai se beneficiar ou que é até possível curar diabetes com terapia ortomolecular.' Ou, ainda, que é um tratamento para emagrecer. Não é. 'O que realmente emagrece é manter uma dieta hipocalórica e perder mais calorias praticando exercício físico', afirma ele. |